11 de março de 2019
Setores do agronegócio defendem a extinção do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) – agora vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – como forma de contribuir para reduzir os custos de produção da atividade agrícola e economizar recursos públicos. Eles propõem que as funções do órgão sejam absorvidas pela Secretaria de Assuntos Fundiários, criada no governo Bolsonaro, com uma estrutura mais enxuta e menos burocrática.
Jeferson Rocha: Governo precisa estudar ideia de fechar o Incra – Elio Rizzo/AGROemDIA
Lideranças da Andaterra (Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra), por exemplo, entendem que o Incra não tem mais razão de existir, principalmente num momento de ajuste fiscal, que requer contenção de recursos públicos. “O Incra não serve para ser mais nada. Precisamos extingui-lo e vender toda a estrutura que ele tem nas capitais do país”, diz o diretor jurídico da Andaterra, o advogado Jeferson Rocha.
“Vamos fazer dinheiro com a venda dessa estrutura paquidérmica do Incra e economizar recursos públicos. Se o Incra for extinto, eliminares, por exemplo, uma contribuição chamada Incra, que é de 0,2% sobre a folha de salários”, reforçou Jeferson Rocha, acrescentando que a entidade apoia a agenda liberal do governo Bolsonaro, que prevê o enxugamento da máquina estatal.
O tributo Incra, enfatizou ao AGROemDIA o dirigente da Andaterra, não é cobrado apenas sobre a folha de pagamento do setor rural. “Essa contribuição também é cobrada de muitas empresas da área urbana.” Segundo ele, o fim do Incra representaria um imposto a menos e uma boa medida para a redução do chamado custo Brasil. “Já seria um bom começo.”
Ideia precisa ser analisada pelo governo
Jeferson Rocha esclareceu que a ideia da Andaterra precisaria ser analisada e aprimorada pelo governo federal. “Há aspectos legais que devem ser vistos. É necessário saber, por exemplo, como ficaria a situação dos servidores do Incra. Se seriam absorvidos por outros órgãos ou se haveria um plano de demissão incentivada.”
O diretor jurídico da Andaterra observou ainda que o próprio avanço tecnológico tornou o Incra obsoleto e desnecessário. “Hoje, temos tecnologias de mapeamento por satélite que apresentam resultados mais precisos que pesquisa a campo.”
Para o advogado, a própria regularização fundiária não depende mais do Incra. “É claro que há problemas de regularização fundiária, mas eles devem ser resolvidos pelo Judiciário via usucapião ou com outras medidas que estão à disposição de todos os jurisdicionados.”
Reforma agrária e ordenamento fundiário
O Incra tem como atribuição prioritária executar a reforma agrária e realizar o ordenamento fundiário nacional. Presidido pelo general do Exército João Carlos Jesus Corrêa, o órgão é subordinado à Secretaria de Assuntos Fundiários, do Mapa, comandada pelo secretário especial Luiz Antônio Nabhan Garcia, presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR). O Incra foi criado em 1970, durante o governo militar.
Na opinião de Jeferson Rocha, atualmente nem o próprio nome justifica mais a existência do Incra. “Como pensar em colonização quando quase todas fronteiras agrícolas do país estão ocupadas. E reformar o quê? O agronegócio não precisa de conserto, porque não se reforma o que está dando certo. Não há mais lógica em se falar em colonização e reforma agrária, em pleno 2019, nem em manter o Incra.”
FONTE: Agroemdia